#30yearsofInclusion – A Inclusion Europe faz 30 anos em 2018!
Para marcar este ano, estamos a destacar e celebrar a inclusão na Europa nas suas várias formas e práticas – e as pessoas por trás dela.
Todos os meses vamos apresentar uma pessoa que impulsionou o movimento Inclusivo na Europa.
O nosso herói da inclusão em setembro é Henrique Amoedo, de Portugal.
“Juntos faremos a diferença” – este é o lema da “Dançando com a Diferença”, uma empresa de dança inclusiva que ganhou reconhecimento em Portugal, no Brasil e em muitos outros locais, pelas suas produções criativas e ambiciosas. Entrevistámos o seu fundador e diretor artístico, Henrique Amoedo.
De onde surgiu a ideia de fundar uma companhia de Dança Inclusiva?
Esta não foi a primeira companhia Inclusiva que fundei. Eu já trabalhava com elencos de pessoas com deficiência no Brasil. Em 1994 durante a minha especialização em consciencialização corporal na cidade de Natal no Rio Grande do Norte, fundei a minha primeira companhia, a Roda Viva Cia. de Dança que teve a particularidade de se tornar a primeira companhia de dança profissional com um elenco de pessoas com deficiência no Brasil. Os Dançando com a Diferença surgem muito mais tarde na minha carreira.
Aquando do meu mestrado na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, recebi um convite da Direção Regional de Educação Especial e Reabilitação da Região Autónoma da Madeira, instituição que agregava diversos núcleos artísticos ligados ao trabalho com pessoas com deficiência, desde as artes plásticas ao teatro e a música, era realmente um espaço inovador e com trabalhos muito consistentes nesta área. Nesse sentido fui convidado a ministrar workshops ligados à dança para pessoas com deficiência, que era uma das disciplinas artísticas que estava em falta. Dei uma série de workshops até ser desafiado a apresentar um projeto de continuidade. Apresentei-o.
Durante nove meses tivemos pessoas com e sem deficiência a dançar e a aprender juntas, num processo formativo. Nascia aqui o Projeto Piloto Dançando com a Diferença, um núcleo de pessoas com e sem deficiência que interagiam entre si de uma forma única, revelando resultados criativos e inovadores. Após essa primeira fase fui desafiado a dar um passo em diante neste projeto, e desse núcleo de trabalho inicial saíram os primeiros elementos que formaram um novo núcleo, que mais tarde viria a ser o Dançando com a Diferença.
Começa, então, uma longa e prazerosa trajetória de crescimento e aprendizagens, de criações e trocas artísticas que nos levaram a constituir um repertório com criações dos mais importantes coreógrafos de Portugal. O leque amplia-se as nacionalidades também e hoje, em 2018, continuamos a ter um repertório de referência. Importante no panorama artístico, mas principalmente, importante para nós.
Desde 2007 que o Dançando com a Diferença detém um estatuto jurídico próprio. Somos uma Associação sem Fins Lucrativos e buscamos a disseminação do conceito de Dança Inclusiva, conceito por mim desenvolvido em ambiente académico, durante a minha dissertação de mestrado (defendida em 2002). Através deste conceito e do trabalho artístico de excelência e qualidade, buscamos mudar a perceção social sobre as pessoas com deficiência e a participação artística de elencos que integrem pessoas com e sem deficiência, elencos inclusivos como chamamos.
Como foi o processo para criar? Que tipo de apoio teve? E quais as barreiras?
Criar é sempre o processo mais fácil, havia essa necessidade, a de progressão do nosso trabalho. O grupo formado dentro projeto era muito coeso, o grande envolvimento dos pais dos alunos e restantes intervenientes justificaram e apoiaram em todo o processo de criação do grupo e, mais tarde, da Associação. Penso que aquilo que nos toma mais a atenção nestes processos é sermos capazes de tornar aquilo que fazemos em algo viável e com credibilidade, mantendo sempre o foco nos destinatários principais do nosso trabalho, os jovens e adultos com e sem deficiência que veem na instituição um porto seguro.
Como já referi, o Dançando com a Diferença como projeto piloto surgiu dentro da estrutura do Governo Regional da Madeira, associado à Educação e ao Ensino Especial. Desde esta altura que somos apoiados pela Secretaria Regional de Educação para o desenvolvimento de ações integradas no âmbito pedagógico, através da disseminação da Dança Inclusiva.
Mas não só de projetos educativos são compostas as ações do trabalho do Dançando com a Diferença. Como projeto artístico e cultural contamos a nível nacional com apoio bianual (2018-2019) da Direção Geral das Artes / Ministério da Cultura. A nível regional há o apoio, já há alguns anos, da Direção Regional de Cultura. São apoios estruturais que permitem a continuidade dos nossos trabalhos criativos e permitem a manutenção da nossa estrutura como um todo. Também a nível local, contamos com o apoio às nossas atividades por parte de municípios como a Câmara Municipal do Funchal.
As nossas maiores barreiras passam pela compreensão institucional acerca da aplicabilidade dos diferentes projetos e intervenções em torno da inclusão e trabalho com jovens e adultos com deficiência. A necessidade de rápida visibilidade e o imediatismo na constatação de resultados, muitas vezes, impedem que as estruturas que podem nos financiar ou apoiar através do mecenato não contemplem este tipo de trabalho, que tem no tempo e acompanhamento continuado o sucesso. Apesar de conseguirmo-nos orientar bem no sentido do equilíbrio entre gestão e projetos, esta barreira é uma ameaça à sustentabilidade e continuidade de trabalhos que são fundamentais para o perfeito desenvolvimento de uma real sociedade inclusiva.
Como escolhe e como as pessoas fazem para fazer parte da companhia? Tem uma chamada coletiva? Ou a cada projeto surge a oportunidade de juntar-se ao grupo?
Não se trata diretamente de um processo de escolha, o grupo Dançando com a Diferença é um espaço aberto à entrada de todos os interessados, sejam eles jovens, adultos ou séniores com e sem deficiências. Há que distinguir entre fazer parte das atividades da companhia e fazer parte do repertório da companhia. Este último está sujeito a um processo de escolha por parte da Direção Artística, a quem compete a avaliação da evolução das competências estético-artísticas de cada aluno, e do coreógrafo convidado a criar uma obra para o nosso repertório, que verá no grupo de alunos/bailarinos, aquele cujo perfil se encaixa nos objetivos qualitativos e que estejam próximos da visão artística do criador acerca do trabalho a ser desenvolvido.
Quanto tempo leva um processo de criação de um novo espetáculo? Habitualmente quantos participantes precisa?
São duas questões em que as respostas podem ser infinitamente variáveis, já que diferentes variáveis levam à definição dos timings e elenco para cada criação. De uma forma geral posso dizer que são necessárias de quatro a oito semanas para um processo de criação e o número de participantes depende do que se pretende para a obra. Há os trabalhos de Dança na Comunidade onde costumamos integrar muitas pessoas, criando obras para grandes grupos (de aproximadamente 100 pessoas). É impossível pensar na circulação destes trabalhos com os elencos originais, mas podem ser replicados em outras localidades. Endless, por exemplo, uma obra que criei no âmbito de um projeto europeu e que foi integrada ao repertório do Dançando com a Diferença em 2012, já foi remontada em diferentes ocasiões e em diferentes locais, mais recentemente nas cidades de Goiás (no Brasil) e Viseu (em Portugal).
Como funciona o trabalho entre bailarinos com e sem deficiência?
Funciona como qualquer trabalho de dança. Há uma fase preparatória, árdua, longa e de muito prazer, onde são feitas diferentes explorações corporais. Onde são descobertas as capacidades, onde se descobrem as diferentes possibilidades de exploração e expressão através do corpo. Falo do treino constante necessário a qualquer bailarino, que precisa estar sempre apto a levar o seu corpo aos limites máximos das suas capacidades. É uma fase onde, como costumo dizer, constituímos o acervo da nossa biblioteca corporal. Onde diferentes experiências são somadas e passam a fazer parte do acervo corporal a que todos os coreógrafos, para além dos próprios bailarinos, podem ter acesso nos processos criativos.
Obviamente que devemos ter em consideração que há diferentes tempos e níveis de assimilação das experiências, diferença que deve ser encarada como algo positivo.
Qual o seu espetáculo preferido?
Não consigo responder a esta pergunta. O meu espetáculo preferido é aquele que me toca. Aquele capaz de despertar sensações, emoções e sentimentos.
Acredito que dessa forma, quando chegamos ao público através das sensações, emoções e sentimentos, podemos realmente operar mudanças. No caso específico da Dança Inclusiva, onde também se pretende contribuir para a modificação da imagem social das pessoas com deficiência através da arte de dançar, não conseguiremos atingir este objetivo se não chegarmos, se não tocarmos positiva ou negativamente o público.
Qual a reação do publico às peças do Dançando com a Diferença?
Tudo dependo do repertório que estamos a apresentar, mas como traço comum posso referir a proximidade. O público, depois de assistir aos nossos espetáculos, gosta de falar connosco, de estar próximo, de trocar impressões.
Há obras muito emotivas, como por exemplo a coreografia Menina da Lua (2003), de minha autoria conjuntamente com a Bárbara Matos. Neste caso e penso que pelas características da própria coreografia, onde a relação e a proximidade entre os intérpretes é explorada ao máximo, sentimos a emoção e carinho do público.
Mas a grande magia da Arte é exatamente esta. A capacidade de chegar, de diferentes formas, às pessoas.
Que tem planeado para o futuro?
Com o Dançando com a Diferença estamos a trabalhar na organização da circulação internacional da nossa última criação, Happy Island (de La Ribot) uma criação em parceria entre a La Ribot Cie. e a Dançando com a Diferença. Esperamos poder chegar a novos públicos e a diferentes países com esta obra. Estamos a trabalhar muito para levar esta criação a diferentes locais e a colaboração entre as duas companhias tem sido primordial. Ainda estamos em processo e a negociar com diferentes parceiros e a somar outros neste trabalho, sendo impossível, neste momento, falar em locais concretos.
Também pretendo fortalecer a nossa área de formação. Pretendemos capacitar profissionais para que o conceito de Dança Inclusiva e a metodologia de trabalho criada por nós possa ser replicada em outros locais. O Dançando com a Diferença – Viseu, no Teatro Viriato em Viseu, deve ser o nosso polo de formação no continente português e precisamos fortalecer esta ideia e esta possibilidade. É uma intenção muito forte e precisamos reunir parceiros para a sua viabilização.
A nossa Heroína de Inclusão de agosto foi Maribel Cáceres, que lutou para recuperar o seu direito ao voto:
“It is totally worth the trouble!”
O nosso herói de inclusão de julho foi Charles, um jovem francês:
“Charles – a young man challenging preconceptions”
O nosso Herói da Inclusão de junho foi Hendrik Jan Menninga, um “embaixador da ONU”:
“We make sure that the UN CRPD is not just a piece of paper”
O nosso Herói da Inclusão de maio foi Sami Helle, um músico, autorrepresentante e político:
“I chose what felt good. You see: I love music!”
O nosso Herói da Inclusão de abril foi Gerhard Furtner, diretor administrativo duma empresa que emprega pessoas com deficiência intelectual:
“This type of inclusion should catch on everywhere in Europe”
A nossa Heroína da Inclusão de março foi Dana Migaliova, mãe duma pessoa com deficiência intelectual e presidente do nosso membro da Lituânia, Viltis:
“Parents no longer have to hide their children”
A nossa Heroína da Inclusão de fevereiro foi a atriz e música irlandesa Aimée Richardson:
“More roles must be written for people with intellectual disabilities!”
A nossa Heroína da Inclusão de janeiro foi a autorrepresentante Elisabeta Moldovan da Romênia:
“I experienced a lot of abuse in institutions. I wanted to change this situation for others.”